terça-feira, 5 de abril de 2011

Ovelhas sem pastores? Um olhar reflexivo sobre os trinta e dois anos de opção preferencial pelos jovens.

m vias de acontecer a Jornada Mundial da Juventude (16 a 21 de Agosto), em Madri, faz-se oportuno tecer uma reflexão sobre a relação da Igreja com a juventude na América-Latina. No ano de 1979 na Conferência Geral do Episcopado Latino-americano em Puebla, os bispos afirmaram claramente que a opção evangelizadora preferencial da Igreja na América-Latina era: opção preferencial pelos pobres (retoma a afirmação de 1968 em Medellín) e a opção preferencial pelos jovens. Constantemente ouvem-se vozes e até clamores de alguns colocando em dúvida o amor da Igreja pelos jovens ou dizendo que os Jovens não têm espaço no meio eclesial e que na verdade a Igreja nunca se preocupou com a realidade juvenil. A opção preferencial pelos jovens em Puebla, para alguns, foi apenas um meio diplomático, conservadorista e político da Igreja para controlar ou abafar a opção preferencial pelos pobres conclamada em Medellín (1968). Ora, diante desta constatação, surge uma questão: estaria nesta atitude eclesial, a realidade juvenil, sendo usada como manobra e não como opção evangelizadora profunda da Igreja? Este artigo tem a pretensão de passar um olhar geral sobre os principais eventos e pronunciamentos oficiais que a Igreja fez nestes mais de trinta anos para corresponder com a proposta de Puebla e ao mesmo tempo demonstrar que a Igreja nunca abandonou os jovens. Ao mesmo tempo, gostaria de salientar que a opção preferencial pelos jovens em muitos lugares (Igreja locais) não foi bem compreendida, o que dificulta consideravelmente a aplicabilidade dos documentos oficiais e pronunciamentos da Igreja em relação à juventude. Em 1979 na Conferência Geral de Puebla, a Igreja voltou seu olhar com profundidade à realidade juvenil da América-Latina que estava imersa num contexto de turbulência política (várias ditaduras), religiosa (auge da Teologia da Libertação) e econômica (final da chamada era de ouro). Nestes contextos estavam imersos os jovens. A Igreja, por sua vez, olha-os com misericórdia, acolhida e confiança, vendo-os como sua esperança. Neste sentido, a Igreja vê a juventude como “dinamizadora do corpo social e especialmente do corpo eclesial” (Doc. 85). Com voz forte o episcopado pediu que se desenvolvesse uma pastoral da juventude que levasse em conta a realidade social dos jovens; atendesse ao aprofundamento e crescimento da fé para a comunhão com Deus e com os homens; orientasse a opção vocacional dos jovens; oferecesse elementos para se converterem em fatores de transformação; proporcionasse canais eficazes de participação na Igreja e na sociedade para os jovens (DOC 85, ANEXO 4, p. 151, 2007). Nos anos 80, a Igreja continuou com todo afinco, olhando para a realidade juvenil sempre na perspectiva de ressaltar a criatividade e a liberdade presente nos jovens. Permitiu o florescer de uma série de encontros, reflexões e pronunciamentos, todos voltados à realidade da evangelização juvenil da América-Latina. Ora, merecem destaques os Encontros Latino-americanos da juventude que começaram no ano de 1983 na Colômbia e continuaram a se realizar, não sempre na Colômbia, de forma ininterrupta até o ano de 2009. Desses encontros saíram grandes propostas, reflexões e pistas de ação para a evangelização da juventude. A realidade e a evangelização juvenil, sem sombra de dúvidas, foram vistas nesses encontros de forma integral analisando-as como campo propício à implantar a civilização do amor e levar os jovens a serem seguidores de Jesus, comprometidos com a realidade. Nos encontros Latino-americanos da juventude criou-se o “Projeto de diretório de Pastoral Juvenil” concretizando sua redação nos anos de 1985 e 1986; Refletiu-se sobre a militância juvenil; Pastoral juvenil e cultura; Assessoria e acompanhamento na pastoral da juventude; espiritualidade da pastoral juvenil; as tendências da realidade juvenil etc. Enfim, muitos outros temas foram abordados demonstrando que a Igreja sempre esteve atenta aos jovens. Gostaria ainda de mencionar os congressos Latino-americanos de jovens acontecidos em 1991 na Colômbia com o tema: “Jovens, com Cristo, construamos uma nova América-Latina” e em 2007 na cidade de Punta Del Traca, com o tema “Jovens com Cristo transformando a América-Latina com justiça e esperança”. Estes dois congressos foram para a Igreja da América-Latina um momento de profunda riqueza na reflexão sobre a juventude, troca de experiências, celebração das conquistas e impulso para continuar sempre com ardor renovado a missão evangelizadora juvenil. Os bispos do Brasil dirigiram aos jovens no dia 16 de maio de 2006 por ocasião da preparação do Documento 85 algumas frases que merecem destaques: Vocês estão no coração da Igreja, dando-lhe um rosto jovial...Sua presença, seu jeito, seu dinamismo missionário muito contribuem para uma Igreja mais dinâmica e profética... Vocês são chamados a serem discípulos e missionários de Jesus Cristo, protagonistas da defesa da vida, desde a sua concepção até o seu término natural, e da construção de uma sociedade de paz, fruto da justiça e do amor. Com muita esperança e júbilo, no ano de 2007, a Igreja do Brasil demonstrou com toda clareza e evidência o seu amor, cuidado e preocupação para com a juventude quando na 44ª. Assembléia da CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil) apresentou o Documento de número 85 como seguinte título: “Evangelização da juventude: Desafios e perspectivas pastorais”. Neste documento está presente a atualização do pensamento da Igreja em relação à juventude e ao mesmo tempo desde Puebla “pela primeira vez a juventude não só foi destacada, mas analisada de forma completa em um documento oficial do Magistério Eclesial, podendo ser aplicado em muitos outros contextos” (Doc 85). Diante de tantos encontros, eventos, documentos e pronunciamentos oficiais pode-se afirmar que a Igreja nunca abandonou e nem abandonará os jovens. Ora, diante de tal afirmação, pergunta-se: Por que ainda a Igreja recebe criticas de que não cuida, ama ou dá espaço aos jovens? Crê-se que o problema está na aplicabilidade dos discursos, pronunciamentos e propostas feitos pela Igreja. Acontece, infelizmente, que em muitas dioceses, paróquias ou comunidades, estes pronunciamentos ou documentos não surtem nenhum efeito. A Igreja, enquanto representada pelas Conferências Espiscopais, tem se preocupado incansavelmente com a juventude, mas em muitas Igrejas locais a juventude não tem praticamente nenhuma atenção. É fato que, em geral, as Conferências Episcopais, dizem uma coisa, mas na aplicabilidade destes discursos ou documentos oficiais, vive-se em muitos lugares uma dissonância ou discrepância sem precedência. Esta triste constatação faz lembrar do texto do Evangelho de São Mateus: “Com quem vou comparar esta geração? É parecida com crianças sentadas nas praças, gritando umas para as outras: ‘Tocamos flauta para vós, e não dançastes. Entoamos cantos de luto e não chorastes!” (Mt 11, 16-17). Está ai, o grande 'pecado': a indiferença. Indiferença que fere, destrói e mata a criatividade e liberdade juvenil nestas igrejas locais, paróquias e comunidades. Infelizmente tem-se que aceitar esta triste constatação: os jovens em muitas comunidades estão como ovelhas sem pastores. Foi olhando para esta realidade gritante em muitas dioceses, paróquias e comunidades da Igreja no Brasil que os bispos reunidos em Itaici no ano de 2006 disseram: Apelamos aos padres, aos pais, aos religiosos, às religiosas, e às lideranças leigas de nossas comunidades para que colaborem com vocês na participação da vida da Igreja e nos diversos setores da sociedade. A Igreja lhes oferece formação e acompanhamento para que tenham uma visão crítica da realidade e não se tornem “massa de manobra” de ninguém. A experiência tem demonstrado que o jovem deve ser o primeiro apóstolo dos jovens. Convocamos a todos para um grande mutirão evangelizador em nossa terra através das missões jovens. Pode-se perceber na citação acima, mais uma vez a Igreja que volta a sua atenção e preocupação com a evangelização da juventude. A Igreja constantemente tem voltado o seu olhar à causa juvenil para que não fiquem como ovelhas sem pastores. Aqui faz sentido mencionar as profundas palavras do Papa Bento XVI aos jovens do Brasil representando em suas palavras o desejo do episcopado brasileiro: Meu apelo, a vós jovens, é que não desperdiceis vossa juventude. Não tenteis fugir dela. Vivei-a intensamente. Consagrai-a aos elevados ideais da fé e da solidariedade humana. Vós, jovens não sois apenas o futuro da Igreja e da humanidade, como uma espécie de fuga do presente. Pelo contrário: vós sois o presente jovem da Igreja e da humanidade. A Igreja precisa de vós, como jovens, para manifestar ao mundo o rosto de Jesus Cristo. Sem o rosto jovem a Igreja se apresentaria desfigurada. Enfim, ao passar um olhar geral nestes trinta anos de opção preferencial pelos jovens pode-se constatar que à Igreja, especialmente as Conferências Episcopais, procurou estar atenta aos sinais dos tempos, da cultura e dos anseios juvenis e por meio de encontros, congressos, discursos e documentos oficiais procurou responder com firmeza, convicção e ardor missionário às questões mais latentes da vida juvenil apresentando uma proposta evangelizadora acolhedora, atenta e preocupada em ressaltar a criatividade e a liberdade juvenil a fim de que todos tenham vida e vida em abundância. Diácono Celso Ferreira de Jesus

Um comentário:

  1. A juventude é o amanhã da vida.
    Não é um capítulo separado do restante da existência,
    Nem é o prefácio de um livro.
    É a premissa de tudo
    É a semente onde brota tudo.
    É o alicerce sobre o qual deve apoiar-se o grande edifício da vida.


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